quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Maybe

É que subjugo as capacidades sentimentalistas
Minhas e alheias... Fico alheia a tristeza
Talvez realmente ficasse...
Não fosse tantos pertinhos na cama...
Vira pra cá e pra lá, e mais um pouquinho de sono e denguices

Esse som de chamego que excita

Desajeita meu cabelo, pra mais um cheiro de nuca

talvez ficaria alheia

Maybe

Se não fosse aquele jeito ligeiro
uma pasta de dente no fim
E uma engenharia bastante duvidosa sobre a graça do corriqueiro 

São alguns detalhes de coisas bonitas
gosto das minúcias, das miudezas...
Foram poucos dias;
poucas histórias, algumas risadas...
Muitas músicas, alguma bebida... Duas madrugadas

Alguma vergonha alheia
alguns cheiros e vontades
Meu creme de mão e um pijama amassado
E então uma mala no carro

Perdi a compostura

sábado, 24 de dezembro de 2011

Amor fugado

Saio com meu fusca como todos os dias cedo rumo ao trabalho e monte de possibilidades. Então me pego ouvindo música argentina e cantando num sofrimento de pena e achando graça disso... “Labios compartidos. Labios divididos, mi amor”. É grave: pensei.

Faço uma retrospectiva da noite passada, quando por um bom tempo me senti tão coadjuvante... Observando todas as possibilidades, mas sem nenhuma ação. Me vejo narrando minhas expectativas, como meros contos, não algo possível de ser vivido.

Gosto de saber que parece poético, que rima com patético. A rima é pobre, mas o sentimento nobre... rs! Uma piada. Parei! E fico bastante preocupada por não haver nada de concreto ou palpável. Então só fico olhando e organizando para seja pelo menos uma boa obra.

Fico na dúvida se seria um narrador observador, onisciente ou neutro intruso. Divago ante várias dúvidas, sobre muitas coisas. De repente vejo sentido em músicas ruins e profano meu bom senso com sentimentos mais fáceis. Reduzo-me a uma comédia romântica, depois a um livreco desses com nomes de mulheres: Sabrina, Jéssica, Julia e Bianca, um pouco menos descritiva.

E depois de um tchau surpreendentemente doído. É não previ a cena, mas até que contive o soluço, só não o cisco dos olhos. Tive o impulso de beijos desesperados, mas também os contive. Só não contive a sensação de lamento e uma semi-saudade.

O fato é que ri muito enquanto ouvia: “Yo no puedo compartir tus lábios. Que comparto el engaño”, e ia repassando toda a noite
em pensamento. Eu não sei exatamente do que ria. Acho que eram as centenas de libélulas que insistiam em fazer um estrago na minha barriga desafiando minha sanidade.

Novamente retomei a lembrança do meu lamento da noite anterior: é eu chorei. Entrei no carro e chorei feito viola bem tocada. E é aí que a vida sacaneia toda a cena de novela mexicana.

Simplesmente apareceu um mendigo com uma canequinha na mão me perguntando onde ele encontraria água. Puxa vida, era 3h da manhã, não podia chorar sem ser vista? Não... Eu não. Eu tenho que ser zoada pelos Deuses todos. Ai que chacota! _ Olha a Sarah que idiota”. Que sede era aquela?

Criei todo uma atmosfera pensando: tenho muita água aqui. Pensei no meu quase pranto, como chuva. Pensei em torrencialmente. Dramatizei: das minhas lágrimas, apenas sal, lhe secaria a boca e amargaria a vida... Depois ri. De onde tirei esse amargo todo?!Sal é salgado. Burra! Além de largada é burra!



Então ele, o senhor de uns 60 anos, no estado de mendigo, me fitou bem os olhos e disse: “mas você ‘ta chorando mia fia. Não divia fazer isso, não é justo com as minina feia (sic)”. Me senti quase linda com aquela cara de bolacha.

O fato é que ele me viu e se importou: disse que eu devia ligar o carro e partir pro meu destino. É quando o mundo me joga na cara, que não devemos subestimar a profundidade de nenhuma criatura. Obrigada senhor sem nome.

Aí não tive muita escolha a não ser escolher continuar chorando, mas dessa vez em movimento e ouvindo Zeca: “A solidão é meu cigarro, não sei de nada e não sou de ninguém. Eu entro no meu carro e corro, corro demais só pra te ver meu bem”.

Ai chorava freneticamente. A essa altura sabe-se lá porque. “Dias vão, dias vem, uns em vão outros vem. Quem saberá a cura do meu coração se não eu”. E eu pensava nisso tudo, ouvindo musica argentina as 7 da manhã. Que jeito mais masoquista de começar o dia. “melhor é dar perdão a quem perdeu”. Impressionante a capacidade de lembrar uma música tocando outra.


No final, analisando tudo, sei que não há graça. Não tem graça, parece depressivo pensar assim, mas mesmo não sendo engraçado tenho medo de ser uma piada, ou que minha vida seja um livro mal escrito. Respiro fundo e a dúvida permanece encanada, como vento preso. Por que me permitir algo que não seria nunca?! Porque é lindo! “Amorrrr fugado”... rs!