segunda-feira, 16 de maio de 2011

Coquetel Molotov

Definitivamente quando o dia é pra ser ruim ele não dá aviso, e acontece cada coisa que se você acha que não pode ficar pior é por mera falta de imaginação. Cópia daquelas comédias: como se não bastasse o cara estar ferrado, vem um carro e joga lama por cima. Pois bem... É o que aconteceu comigo. Coquetel Molotov. Isso parece marca de vodka. Me dá uma dose...

Decidi rir pra tirar proveito e não me entregar a uma possível e eventual tristeza, correndo o risco de me tornar amarga. Ah! Isso eu não faria comigo, não de novo, nem nunca mais, muito menos para sempre. Notícia ruim vem por SMS e email. Mas isso não é um sinal é tecnologia.

O caso é que logo pela manhã [5h45], vou ao meu banho rotineiro de acorda logo porque o dia está prestes a acontecer. Um friozinho tão convidativo aos edredons, lençóis e travesseiros... Enfrentei bravamente a preguiça e segui forte e honrosa para o chuveiro. Abri o registro, a água desceu à vapor, me joguei de cabeça. Quando começava a gostar daquilo, caiu o fusível e simplesmente fiquei no escuro e uma água gelada do mal pingando no cerebro. Pensei: que droga! Foi aí que eu deveria ter voltado para a cama, mas vendo que estava tudo ligado: TV, ferro de passar, liquidificador... Isso não seria um mau presságio.

Superei o desgosto rapidamente, apreciei a vitamina de leite de soja, abacate, banana, maçã e sem açúcar de todo santo dia, preparada carinhosamente pelo pai diabético (aquilo é horrível), mas num dava pra dizer que o dia seria ruim, porque todo dia eu sou obrigada a passar pela bebida semi-láctea se num fosse a soja. Exceto por ter encontrado um objeto não identificado, que preferi pensar que era uma casca de alguma das frutas, essa parte do dia foi tudo bem e esse certamente não seria um sinal.

E então saio pra ir trabalhar e me deparo com um cara de cueca coçando a pança e uma mulher de cabeleira loira, descabelada de toalha bem na esquina indo pro carro em despedida. Cena forte numa manhã de segunda: um sujeito de meia idade, careca, barrigudo, com zorba de vô, dessas que o “dito cujo” sai de lado, é no mínimo traumatizante. É engraçado também, sabendo que na esquina de casa, atravessando a rua fica instalada uma casa de recreação do sexo chamada “Tia Lica”, tudo dispensa comentários e esse não seria o motivo pra superstição, as pessoas transam.

Como se não bastasse, chego ao trabalho, a reunião “inquisidora” espera por mim e aos meus colegas. Toda segunda-feira a mesma coisa, cujo ensinamento é: “com as reuniões eu aprendi que se o Corinthians perde a culpa é minha!”. Sendo uma carnificina, nem pensei que a situação fosse uma amostra do que poderia vir de exclusivo para mim. Não! Não era um aviso.

Acabou a reunião, começo a trabalhar, e de repente, não mais que de repente a internet cai. Pode ser que na ocasião da pedra lascada alguém conseguia trabalhar sem internet, atualmente, no entanto, não consigo descobrir nem que dia é hoje sem o “guru” de todos os dias, horas e circunstâncias. E a internet bandida não voltou... Mas a falta da internet não chega a ser um atentado, é mais um fenômeno natural... Tipo tsunami... Não é um sinal e sim a falta dele.

E ainda não foi o pior, eu estava eu feliz, porque não tinha mais o que acontecer... Quando surge o motorista pra me buscar numa pauta (uma matéria normal, limpa de ar condicionado). O fato é que ele tava na adrenalina, uma ocorrência do nada e eu tive que ir junto... Fui...

A denúncia era a de que encontraram um corpo numa casa. Até aí tudo bem, estava me preparando para escalar um muro para conseguir a foto do suposto defunto, quando pisei num cocô fedido, e mole, e gigante! Custava olhar para o chão? Não! Eu estava empolgada demais com a altura do muro e a nostalgia do colégio.

E nem era morto, mas quase mataram uma velha de susto. Jogaram uma bomba caseira no terreno ao lado da casa da pobre. Mandaram uma nitroglicerina de garrafa cheia de pregos, judiação! Podia ser coquetel molotov, passei perto da dose!

A senhora tremia tanto... Mas a entrevista foi a melhor. Nesse interim eu já sabia que meu all Star branco estava “merdeado” a toa, eu havia subido no muro a toa e a matéria já nem era um fato conclusivo.

Eu só tava fazendo a foto das janelas quebradas, mas ouvi que era culpa da novela da época da ditadura [soube que é transmitida no SBT], que influenciava os jovens a produzirem bombas. Foi demais, e me manter séria e prestativa, foi ainda mais absurdo. Maldito Google com essa cultura terrorista impregnada em suas páginas. E meu pé fedendo. E pra descer do muro, foi estilo Capitão Boing. “Se o céu é o limite”, do chão é que eu não passo.

Eu não vou falar do meu almoço porque aí vai ser humilhante. A falta de tempo e grana me obriga a comer marmita todos os dias, e obvio que deu errado e eu não vou contar isso. Voltei a trabalhar, travando uma batalha com o dia, fazendo graça de tudo, porque é nessas horas é que é válido ser auto divertida. Inteligência emocional para as horas de crise. Molotov.

A internet caiu de novo. De repente “PI” meu celular, li uma mensagem que deu dor de barriga e com aquela marmita nem conto nada. E a internet voltou, antes não tivesse voltado. Li um email desesperado e pensei agora acabou tudo mesmo. Mas já tava tudo bem ferrado então decidi ser corajosa e ver que o dia não ia me matar. Coquetel Molotov para os fortes.

Aquela altura eu já estava me sentindo o Highlander, só faltou a música do Queen. Mas aí eu choraria. Não chego a rainha, mas sou uma lady e não choro nunca. Respirei fundo, bem fundo... Continuei o dia difícil de banho gelado, bebida azeda, homem velho pelado, reunião cretina, internet bugada, merda no sapato, tombo de muro, marmita zuada, o que seria um término por email?

Aí já era de tardezinha, o jornal todo atrasado, vamos pedir uma pizza e encher a barriga de Coca Cola! Qualquer prejuízo é lucro. Vem um esculacho do patrão, porque se não tem internet e o jornal está parado, a culpa é minha! Dei risada... Eu sabia que não devia ter saído de casa. Mas é como eu disse: um dia ruim não dá aviso. Ele só é ruim.

Se fosse em outra ocasião eu teria medo de ir pra casa, mas não, fechei minha página, peguei minha bolsa, fui pro meu reino, tomei banho, escovei os dentes, e pensei que um dia ruim dava uma boa história, porque é inacreditável, totalmente coisa de filme. Então pensei que se eu posso viver uma comédia, porque não um romance? A lógica é perigosa porque há outros segmentos no cinema, mas acho que vou arriscar.


No final, o dia valeu a pena, eu ri de todas as catástrofes... Fiz pessoas rirem também, e vi que com um pouco de fé é só um dia ruim que vai acabar assim que eu dormir. Confesso tive vontade de procurar a receita do Coquetel Molotov, mas vou ter coragem de acordar amanhã de novo e ver o que vai rolar... E eu não vou explodir!

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