sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Ás vezes

Um dia você deita na cama e pensa: ainda bem que é ele do meu lado, mas mesmo assim lembra de quando não havia muitos compromissos de que você se dava muitos luxos. Acho que na maior parte das vezes a gente gosta mais do que a gente foi. É aí que me recordo de mim e da pessoa que sempre desejo ser, mais a insatisfação plena do que sou.

Aquele cabelo, aquele corpo, aquele tom de loiro, aquela facilidade de andar na moda sempre. Então me lembro de quando eu tinha aquele cabelo, aquela roupa e aquele sonho do que já tenho hoje e eu queria mais ou menos o que sou hoje... Quando lembro disso, me sinto satisfeita, por 5 segundos aí penso no futuro do que quero ser. Andar de fusca, com um cara lindo do lado que amo com um lenço na cabeça ouvindo música velha e passar tardes com violão... é eu tenho.

O “hoje” penso nele assim: mesmo quando é simples é complicado, e graças a Deus eu ainda posso me dar o prazer dessa façanha de simpleza. Tenho pensado muito na oportunidade do ócio, e do quanto o faço... pensando que poderia não estar ociosa fazendo coisas que gosto, como por exemplo, divagar.

Minha vida de rotina é um escândalo e um tapa na cara dessa ditadura feminina eu trabalho fora, vou a academia, faço carboxiterapia, limpeza de pele e pilling de diamante, faço almoço e janta sou dona de casa, faço DR, não sou hostilizada por TPM.

Posso ser chata nos dias que tô afim de charme que ainda sou chamada de linda e recebo um sorriso carinhoso de cumplicidade, como se não bastasse tenho pano no chão e louça lavada, com direito a cuidados com quintal, ração pra cachorro e até o cocô ele pega e nem vou falar da limpada de remela da cachorra na bermuda, e beijo na minha nuca suada enquanto fumo um cigarro vendo tudo isso com um gole na cerveja.

Mas ainda assim penso nos dias que tinha sem o compromisso, os dias que não deitava na cama na hora, me sentava com o papel do word em branco e escrevia essas linhas estranhas do meu cotidiano. Acho que tornar minha vida mais dramática do que é sempre foi um consumo pragmático e feliz.

Hoje sou feliz de dar inveja e isso quase me torna triste por me causar tanta saudade da escrita por paixão... Sem ser as linhas do cotidiano alheio de páginas para serem vendidas no factual. Tenho um homem roncando do meu lado porque insistiu em tentar não dormir me fazendo carinho e ficou de barriga pra cima. Desculpe feminismo, mas no final das contas todo mundo quer um “seu” pra amar e quase tudo se resume nisso no final, não há mulher bem sucedida na terra que é completa sem um amor... E porque tanto suspiro pra cima quando consegue?

Olho pro lado vejo atrás de suas costas um porta retrato bonito no móvel ao lado da cama com uma fotografia nossa com dois sorrisos de orelha e beijos prontos em cada canto de boca. Ou eu sou romântica demais ou sensitiva, por achar que sempre fomos predestinados, no fim das contas vejo que nada poderia nunca ser diferente, com exceção de querer apagar o passado dele pra que ele só se lembre de mim como perfeição, não camoniano porque faltava um olho no cara... Talvez seja egoísmo, egocentrismo... Ah dane-se sou desconstruída, desconcertada. ...

Eu li outro dia que a gente aqui na terra não sabe o que é amor, que o que temos é apego ou ego, porque amor de verdade não tem dessa de julgamento, o amor é generoso e permite. Não sei bem o que pensar, posso até considerar, o fato...É que já tive muitos amores da minha vida. O amor da minha vida foi recorrência e não é diferente agora. Bom é diferente, porque é o da vez, e mais uma vez é esse: O certo.

A intensidade nunca foi uma escolha, mas um modo de vida. Sempre sofri horrores após um pé na bunda. Acho que isso é apego... Essa coisa de sofrer tanto, bom pelo menos é a forma que encaro hoje para não banalizar meu amor atual e torna-lo o mais importante e intangível amor da terra.

Acho que sou engraçada em pensar que meu amor atual é o mais importante da terra, como se Deus tivesse me dado a missão de mostrar essa celebração, mas tudo é confete e eu adoro um.

Desculpa se quero ser mais importante que o resto da terra, mas acho que mereço ser amada de verdade, como alguém único que nunca recebeu tanto amor no mundo... No fim das contas olhando o branquinho do meu lado desmaiado dormindo segurando minha perna sinto: ele me ama como nunca pode amar ninguém... Aí vem o ego porque quero esfregar isso na cara da sociedade, o que me torna mais uma vez cômica e me faz acreditar nessa teoria bizarra da gente ser tão burro que não dá conta de fazer a coisa mais linda do mundo que é amar.

A vida segue rápido e talvez pensar muito nisso, se a gente tá fazendo certo ou errado, não leve a muitos lugares e nem a um amor; seja ele com ego ou sem ego... O amor da vida ou o que leva a morte, não é hoje que vou saber, o fato é que às vezes sinto falta de dizer e principalmente sinto falta de mim, sinto falta de ser confusa e me canso de tanta terapia comigo mesma. Sinto falta de xingar as pessoas as vezes e dizer o quanto são patéticas porque aprendi que tudo o que sinto nos outros existe em mim... Isso não faz sentido porque não sou brega.

Depois me sinto hipócrita por ser tão civilizada e não fazer o que sinto e racionalizar tanto as coisas em prol do resto e de boa convivência, porque às vezes acho que estou pagando de boazinha e acho que não convenço ninguém. Sinto falta disso aqui, dessas linhas todas desconexas que talvez não leve a lugar nenhum, mas me traz pra mim mesma.


Eu gosto de ser esse tapa na cara, mas gosto também de ser boa pessoa, mesmo perturbada... Gosto de ser a pessoa que ama insanamente, gosto de me sentir exausta da minha vida às vezes, gosto de respirar fundo e depois ver que nada é um fardo e que tenho tudo,  e que nada é definitivo e gosto de ver que o que é definitivo é construção de dois e eu gosto mais de dois do que de um.

Hoje eu não quero dormir cedo, mas vou acordar cansada amanhã, aí minha sexta já está programada... Disso eu não gosto todas das sextas, embora eu espere por essas sextas todas para o resto da vida, mas hoje eu escolhi escrever na madrugada e daqui cinco horas vou levantar pra trabalhar, quando voltar, vou limpar a casa não sei o que ia querer depois disso, mas o fato de já ter compromisso me incomoda às vezes. Essa bagagem toda que a gente carrega na vida de cotidiano é que me incomoda e o paradoxo é o que me faz mais feliz...

Mais feliz porque o cara que acabou de parar de roncar porque virou de lado ama tudo o que eu toco e ama de graça e é a pessoa que se ama de graça... Gosto da vela que ele acende no quarto a noite ele finge que tem medo, pra enganar o escuro que me cerca, ele fez uma luz pra mim. Eu sempre tive luz própria, mas ele me deu outra, além disso ele não me apaga, é quando lembro que hoje eu sou a pessoa mais incrível que já fui, porque sou capaz se fazer com que ele me enxergue, é por isso que assumo compromissos mesmo que eles me cansem... isso tudo é proteína de soja...

Queria escrever mais, mas hoje não dá...

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Novela antropológica

Me julgue se eu penso o mal alheio, penso mesmo... Fico fazendo novela na cabeça. Engraçado... Acho que desde criança temos um adestramento de bem e mal, sem meio termo ou comportamento humano de maneira mais “antropo”, a gente se apega só na “lógica” inventada e simples.

Igual livro infantil, em contos de fada não existe... Sei lá uma menina de origem pobre que sofreu o pão que o diabo amassou ficou órfã ou não ganhou a Barbie que queria e resolveu se vingar do mundo. Sabe-se lá qual a triste história de vida dela, porque cada um tem uma... O fato é que ela ficou má e virou a bruxa que deu um jeito de casar com o rei e tornar-se a rainha.

A história vai direto na coisa malévola. E ai sempre tem uma sonsa que é a princesa, que é do bem. Uma tapada, que paga de boazinha e quer por que quer o príncipe encantado e ninguém conta os podres dela... Ela deve acordar com hálito de cereja a cretina. A história fica restrita a como ela tem um cabelão comprido e faz um charme danado pra todo mundo e ninguém diz o quanto ela é preguiçosa, num lava nem a calcinha e sempre teve tudo na mão, mas ela é linda, então é do bem.

Ou novela, aquela ambiciosa que quer dominar tudo e todos e a outra que só quer o que? O que? O que? Amar!!! Aí as duas inventam de querer o mesmo cara, ou nem querem, mas tem que rolar disputa, porque num tem uma só novela que num tenha um lance assim e  então fica aquela coisa, a sujeita do mal é mais esperta e sempre tem um cara que é uma anta e num percebe um palmo na frente e assim fica a novela toda, até no final, a mocinha provar por A mais B que ela é a do bem que a outra é a do mal e que não merece o amor nem de uma pulga.

E é assim que a gente aprendeu a vida toda, tanto pela literatura como pela televisão. Me fez mal é do mal, me fez bem é do bem, e se me decepciona é do mal e se fez algo bom volta a ser do bem ou simplesmente a mudou ou evoluiu, mas ninguém quer dar conta do próprio umbigo.

É ninguém quer mudar, eu pelo menos sinceramente num quero, só racionalmente penso que era bom pra variar, mas o fato é que projetar o mal no outro é bem mais divertido, se você encontra alguém que também não gosta daquele outro é mais divertido ainda, porque aí vira assunto.

Fico confabulando, até cenário monto. Coisa bem baixaria mesmo, com dissimulação e abraço. Ah, mas você disse isso... E bla, bla, bla, balela. Nem tenho tempo para isso. Firma-se a superioridade de quem não se apega a tão pouco depois fica em casa fungando no travesseiro e pensando que o dia certo checa e a cortina se abre. É tudo teatro, mas a gente se esquece que na vida se não dermos conta dos nossos personagens eles nunca deixam de existir e que felizes para sempre é todo dia... Porque essa é uma escolha só nossa.

Não dá pra brincar de rainha má e princesa, nem de mocinha e vilã... Somos tudo por várias razões, então não dá para esperar o outro virar do bem igual novela. A gente pode tentar ser bom, mas sem ter o dever de vítima. O lance é se despir dessa bondade que a gente acha que tem, perceber o nosso mal, assumi-lo e trabalha-lo. Não sentar em cima do rabo.

Todos tem bondade? Aham, mas não vim aqui para pagar de mocinha. Penso que assumindo nosso mal podemos transforma-lo em algo mais produtivo. Assim quem sabe a gente nem percebe o mal do outro... E não é ser inocente, mas não ser afetado, porque as coisas se arranjam melhor sem esse drama todo.

"Esse sou eu na esquina de novo, tudo é tão novo, quanto esta canção. Será que alguém presta atenção?" E.H.