terça-feira, 7 de junho de 2011

As rosas que não recebi

Me veio uma rosa emprestada, não foi ganhada, mas foi de coração. Interessante, gostaria de ter recebido rosas. Fico na expectativa de que cheguem e lá naquela minha mesa não ter somente as porcarias que eu juro precisar de todas, mas também alguns botões que não fosse o já murcho emprestado de um dia ruim.

Engraçado, nunca fui de rosas, aliás, sempre fui de samambaias e girassóis, e sempre ganhei rosas [benditas ou malditas] elas chegavam para mim.

Agora não chega nem matinho de canteiro de rua. E aquele “shakesperismo” de que ao invés de esperar flores é necessário cuidar do jardim e virão borboletas, não serve para mim. Meu jardim é mandacaru no literal.

Não por nada, é só que me esqueço de por água, e gosto da independência das coisas. Também não tenho nada contra as borboletas, mas sou mais de libélulas.

Quando as pessoas se apaixonam, a maioria arranja borboletas na barriga. Já tive disenteria, foi há três anos. Depois, dois ou três que não passaram de indigestão ou uma amizade boa. Gosto mais da amizade boa.

Agora quando me apaixonar, espero ter libélulas retardadas.

Mas eu realmente esperei rosas por esses tempos, é engraçado. A situação toda é bem poética, e patética.

Ganhar rosa de amiga que recebeu flor, não chega a ser humilhante, mas é quase triste. Compaixão é muito triste. Eu sei. A culpa é minha, faço certo draminha, um semi-teatro de dor.

Engraçado, porque realmente nunca fui de flores, nem de amores ou coisa parecida, sempre preferi samambaias, girassóis, e papéis de bala amarrados ao meio.

Os amores, esses eu evitei ao máximo, com todas as forças do cosmos. Não via muito objetivo. Quer dizer, tenho tantas coisas para fazer, e amar demanda demasiado tempo, disposição e uma rotina menos insana.

Amar não seria uma boa ideia para mim. Eu não posso ser esse tipo que se apaixona, mas eu gostei da sensação.

Agora, mesmo sem tempo, fico apreciando as horas em que finjo não ter nada para fazer só pra contemplar a sensação de que há algo por vir. Me recrimino, não há objetivo nisso, talvez perda de tempo, para que me serviriam as rosas? Elas murcham, secam e morrem. Que pensamento mais burro esse sobre as rosas. É que eu tinha certeza que elas viriam, mas não vieram...

Engraçado não saber o que fazer sobre as coisas, então não faço nada, continuo a sequência dos sete dias por semana, aguardando alguma mudança sobre os fatos infactuantes.


Uma decisão deve ser tomada, a de voltar a ser isenta de distrações sentimentais.

Por que isso me soa covarde? Não recebi as rosas, só um botão emprestado de amiga e ainda me levaram as meias... Vou esperar orquídeas.

Engraçado pensar tanto nas rosas, e de que cores seriam, acho que não importam os hibiscos. Na verdade nem me importa se viessem apenas os talos, desde que eu não precisasse mais esperar.

As rosas que não recebi têm um leve afago de lamento.

6 comentários:

Amilcar disse...

Queria te dar/construir um obelisco... não perto demais, pois o poderia deixar de notar; não alto demais, pois torna-se-ia alvo de tiros "napoleônicos" e abalos; mas também não discreto demais, pois perderia o sentido do presente.
O presente desobedece as vezes a vontade de quem o recebe, e supõe benignidade de quem o dá. Estou dividido, o "presente" é escrever nos próximos textos.

Fernando disse...

Oiee, td bem?

Gostei do texto, estou num dia quase ruim e também me identifiquei com ele. Do seu amigo de Matão-SP (primooo do Marquinho rs).

Bruno Axelson disse...

nossa... sei que pela indefinição literal é definida 'Aaaa' mensagem...talvez meio Clarice...ouuu um pouco Pessoa... gostei (com um pouco de medo) mas gostei "[...]aguardando alguma mudança sobre os fatos infactuantes"

Rafael Castellar das Neves disse...

Muito bom...gostei daqui e muito deste texto...finalizou com muita sabedoria!!

Parabéns!

[]s

Anônimo disse...

Escreva com mais frequência!

Alberto disse...

Bom esse texto.