quinta-feira, 9 de abril de 2009

Papel em branco




Como as histórias devem acontecer? Fico pensando... Sei que elas simplesmente acontecem, e devem ser contadas, dobradas e desdobradas de maneira a serem surpreendentes, penso que a vida de todo mundo pode ser algo incrível de se saber, o lance esta em como contar isso...
Sabe aquela viúva que passa os dias observando a vida alheia? Em minha adolescência pensava que a vida da infeliz - olha só o julgamento por infeliz, vai saber... Mas, imaginava eu que devia ser muito desinteressante a história dessa criatura - vai me dizer que você também imaginava? Será a mesma vizinha? Bom, às vezes ser espectador das coisas pode ser absurdamente intrigante, todo dia um fato novo e pode haver mais de um fato num dia... Havendo coisas simplesmente inimagináveis na vida desse ser que a faça parar seu tempo para analisar o tempo alheio.
Mas não é sobre a viúva que gostaria de falar, nem sobre o tombo que acabou de levar aquele moleque danado que insiste em malinar a todo o tempo contra os pombos da praça, não que os pombos sejam boas aves ou que sejam más, só estão lá...
Certo dia na calçada estava sentada, na verdade já tinha se levantado, mas chorava incessantemente, com certeza uma hora iria parar, bom parou obviamente, incessante é só pra denotar o quanto chorava, com o cigarro meio apagado meio aceso, acho que este só estava para contribuir com o cenário de dia chuvoso e poças que realmente combinam com quem está chorando, o fato é que como estava sentada só pode ser uma garota, cabelos úmidos da garoa e talvez mais pela tristeza desconcertante, até vestida para a tristeza a moça estava, aquele jeans surrado, um casaco longo, portando um guarda chuva vermelho, aliás a única cor que se via.
Um fato que despertou certa estranheza é que suas botas de canos longos não estavam sujas e com aquela lama toda na rua de terceiro dia chuvoso, era surpreendente a limpeza daquelas botas, na verdade toda a expressão daquela cena impressionava a quem visse, difícil é pensar que ninguém ou quase ninguém a percebesse, 3h da tarde que sejam 15h numa terça-feira quinto dia útil, um tumulto de gente, mas ninguém ou quase ninguém percebesse “aquela cena”.
A vida se supera a todo instante de hora, porque de repente não mais que de repente, ela sorriu secou o rosto com as mangas de sua blusa, ela não tinha um lenço conferindo que seu choro foi de improviso e parando de chorar, a impressão que se tinha é que nesse momento até o sol se encorajaria, embora isto não tenha ocorrido, o mal tempo continuou, mas ela... Ela foi... Foi pro mundo, vencer suas guerras, foi pros seus sonhos, assim espero, na verdade nem espero nada, a vida é dela e se ela quiser sentar ou até deitar, na sua cama ou sofá ou qualquer outro lugar e chorar novamente tudo bem, mas é como que se por algum tempo, que foi naquele tempo de hora, ela tivesse que ausentar-se da sua existência naquele choro, então olhou pro céu como num alívio, como se também esperasse o sol, embora esse como já dito não deu o ar, mas algo ela viu, algo que ninguém foi capaz de enxergar porque na verdade nem estava preocupado em ver.
Enfim, o que aconteceu? Não sei, e não importa, é como aquelas piadas enormes que se espera ansiosamente pelo que esta escrito no papel que acaba por voar no precipício... A vida é um papel em branco que voa todo dia e é forma como se conta a história é que a torna um fato.

3 comentários:

Bruno Caetano disse...

Porque recorrer à ficção quando o que está à nossa volta merece ser vivido e porque não...contado.

Gênesis disse...

Parabéns Sara!
Muito bom o texto, o único problema é que eu ainda não sei o que aconteceu depois
Belos argumentos
Sucessos

Júh Albuquerque disse...

Muita coisa boa por aqui, hein!!

E olha que parece estar só no começo..

Sucesso com o blog!